“Minha bebê completou 4 meses. Quando começo com os suquinhos de fruta?” foi a pergunta que vi esses tempos num grupo de mães do Facebook.
Culturalmente, o suco de frutas foi por muitos anos o primeiro item alimentar diferente de leite ou fórmula oferecido às crianças. Por muitos anos essa era, e acabou se perpetuando como, a orientação dos pediatras e das avós.
Mas a ciência evolui, pois se observam as consequências dessas abordagens ao longo dos anos e todos precisamos nos atualizar (até as vovós).
Salientando que falarei aqui sobre suco de fruta DE VERDADE, sem adição de flavorizantes artificiais e sem adição de açúcar. Os produtos que contém esses compostos nem deveriam ser chamados de sucos, e a recomendação é a mesma que refrigerantes: o consumo deve ser mínimo. No Brasil o nome desses nas embalagens são “refresco” (que não tem NADA de suco dentro) ou “néctar” (que uma parte pequenininha dentro é suco, mas a maioria é água com açúcar e corante).
Hoje vou trazer aqui as orientações mundiais mais atualizadas sobre a oferta de sucos para as crianças.
É consenso entre as recomendações do Reino Unido, dos Estados Unidos e do Brasil que não se ofereça nenhum tipo de suco de frutas até a criança completar um ano de idade.
A orientação britânica é que, após os 12 meses, se limite o consumo de suco a 150ml por dia tanto para adultos ou crianças. Aos menores de 5 anos, a orientação é que o suco de fruta seja diluído na proporção de 1 parte de suco para 10 partes d’água. Além disso, que sejam oferecidos apenas com as refeições e não nos intervalos.
Já a Associação Americana de Pediatria e o Guia Alimentar Brasileiro reforçam ainda mais que criança precisa COMER a fruta (sólida) e BEBER água. Devem criar esse hábito desde o início. Vamos ver por quê?
O suco de frutas não oferece nenhum benefício adicional à fruta inteira para bebês e crianças de qualquer idade. E a oferta de suco de fruta não oferece nenhum benefício a crianças menores de 1 ano. Ao contrário, os sucos oferecem risco de excesso de ganho de peso e má nutrição.
Os benefícios da ingestão de frutas (sólidas), além claro, dos nutrientes, são que a criança precisa mastigar e exercitar a musculatura da boca e do rosto, e as fibras da fruta previnem a prisão de ventre, efeito que se perde ao serem processadas a suco.
Entre os riscos da ingestão se sucos, encontramos:
- Que por serem de “fácil” consumo, há uma maior chance da criança ingerir mais que o necessário em energia;
- Que dificulta a ingestão de água pelas crianças;
- Que ao serem ingeridos nos intervalos das refeições, aumentam a chance de cárie dentária;
- Associação com má nutrição (a criança pode estar deixando de comer outros alimentos importantes, além de estar recebendo em excesso os carboidratos da fruta);
- Associação com infecção, nos casos de baixa higiene para a produção ou inadequado armazenamento;
- Risco de diarreia, se consumido em excesso.
Outras recomendações dos guias são:
- Não deve ser dado às crianças suco em mamadeiras, copos de transição ou garrafinhas para ser consumido ao longo do dia;
- Não deve ser oferecido suco às crianças no horário de dormir;
- Se sucos forem oferecidos, devem fazer parte de uma refeição, e não devem ser utilizados para hidratar a criança nos intervalos;
- Os sucos não devem estar sendo utilizados pela criança para auxiliá-las a engolir o alimento sem mastigação adequada.
Perde-se aproximadamente 4 vezes a quantidade de fibras de uma fruta ao transformá-la e suco, mesmo sem coar, e normalmente é preciso duas a três porções de frutas para se ter um copo de suco. Ou seja, dar suco no lugar de dar fruta é oferecer às crianças fibras de menos e energia em excesso.
Vamos resumir, então?
- Aos bebês não deve ser oferecido suco;
- Suco não é necessário a nenhuma criança*, independente da idade;
- Sucos podem ser oferecidos a crianças maiores de 1 ano, de forma diluída até os 5 anos, com limite de 150ml por dia em qualquer idade, fazendo parte de uma refeição;
- Toda criança deve receber frutas variadas diariamente;
- Para sede e hidratação, ofereça água.
*salvo em casos específicos, por recomendação profissional
Referências:
- American Academy of Pediatrics - Fruit Juice in Infants, Children and Adolescents: Current Recommendations (2017)
- Ministério da Saúde - Guia Alimentar Para Crianças Menores de 2 Anos (2018)
- UK - Your Pregnancy and Baby Guide (2018)
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