Uma das mais comuns sensações das mães em aleitamento materno exclusivo é uma baixa produção, ou a sensação de “leite fraco”.
Primeiro ponto que temos que esclarecer é que não existe leite fraco. Todo leite materno, a não ser que a mãe esteja em desnutrição grave ou em dieta extremamente restrita, tem uma composição e quantidade energética muito parecida ao longo da lactação.
Segundo ponto que temos que esclarecer é a questão do “peito murcho”. Quando as coisas vão bem durante o primeiro mês de amamentação, e o bebê transfere leite suficiente para saciar seu apetite e ganhar peso adequadamente, existe um reajuste de produção de leite conforme a demanda do bebê. Isso quer dizer que as mamas não necessariamente ficarão com aquela sensação de cheias com a frequência que isso ocorria lá no início. O leite é produzido enquanto o bebê mama quando há a demanda.
E isso é um bom sinal! Vamos lembrar que seu corpo é uma fábrica de fazer leite e não uma sala de estoque. Isso quer dizer que seu bebê está demandando conforme a velocidade de produção. Se seu bebê precisar mais, ele vai demandar mais, e você vai aumentar a produção. Se começar a ficar leite na sala de estoque, vai haver um aviso lá no centro de controle para reduzir a produção.
Mas então tá. Não existe leite fraco. E peito é fábrica e não estoque. Mas e quando a fábrica não tá dando conta da demanda do bebê?
Esse é o terceiro ponto onde eu queria chegar. Não existe leite fraco, mas existe produção insuficiente de leite. E ela pode acontecer por muitos, muitos, muitos, muitos motivos. E eu vou comentar sobre alguns deles aqui.
Antes de continuar, só lembrando que a identificação de baixa trasnferência de leite se faz a partir da quantidade de fraldinhas de xixi e do ganho de peso do bebê. Se a velocidade de ganho de peso não estiver acompanhando a curva de crescimento, é preciso avaliar o que está acontecendo. A mãe não está produzindo o suficiente? O bebê "chupeta" mas não extrai leite?
Existem os motivos associados a questões maternas, os motivos associados a questões do bebê, e os mais comuns: os motivos associados à questão de organização da rotina das mamadas ou de utilização de apetrechos que podem atrapalhar a produção de leite.
É importante atentarmos aqui que os fatores do bebê que influenciam a produção de leite são os relacionados com a diminuição de sua capacidade de extrair leite das mamas ou de estimulá-la. Se o bebê não extrai leite da mama, não realiza a demanda necessária para a fábrica manter a produção.
Já, os últimos motivos da lista são aqueles que de alguma forma ditam ou restringem o acesso do bebê à mama, reduzindo a frequência de estímulo mamário e reduzindo a produção de leite.
Motivos maternos para baixa produção de leite:
· Insuficiência de tecido glandular mamário
· Problemas hormonais, incluindo hipotireoidismo, diabetes e SOP
· Mastite
· Fatores emocionais
· Fumo
· Ingestão de bebida alcóolica (inclusive a tal da cerveja preta)
· Cirurgia mamária, estética ou não (eu sei que o cirurgião plástico disse que não teria risco, mas ele SEMPRE existe - direta ou indiretamente)
Fatores do bebê para a baixa produção de leite:
· Prematuridade (mesmo que tardia - entre 37 e 39 semanas)
· Abertura pequena da boca (pode estar associada ao uso de mamadeira ou não)
· Pega inadequada (por exemplo, quando o bebê pega apenas o mamilo e não a aréola)
· Pouca força na musculatura oral (dificuldade de manter a pega e movimentar a língua adequadamente)
· Alergia à proteína do leite de vaca
· Língua presa com limitação de movimento
Motivos de organização/rotina ou de uso de apetrechos:
· Pouca frequência de contato pele-a-pele entre mãe e bebê
· Pouca frequência de mamadas nas primeiras seis semanas de vida
· Posicionamento inadequado para amamentar
· Troca de peito durante mamada conforme relógio
· Não trocar de peito o suficiente durante a mamada
· Limitar tempo de mamada ou mamadas noturnas
· Mãe volta a trabalhar sem manter estímulo com bomba tira-leite elétrica
· Uso de chupeta e uso de mamadeira sem compensação da consequente redução de estímulo mamário e remoção de leite com uso de bomba elétrica
· Introdução de alimentação complementar antes dos 6 meses
· Qualquer rotina ou apetrecho que diminua o tempo ou a frequência do acesso do bebê às mamas (ex: charutinho, chupeta, oferta de leite de outra forma, treinamento do sono, etc)
Posso ter esquecido alguns? Possivelmente!
Os fatores acima obrigatoriamente afetam a produção de leite? Não necessariamente!
Pode haver mais de um fator prejudicando a produção de leite? Sim!
Se você vivencia agum(s) desse(s) fatores, procure ajuda profissional e especializada, pois eles não são determinantes na sua possibilidade de amamentar.
Importante! Incluir ou aumentar a ingestão de chás ou alimentos comumente conhecidos como “galactogogos” (= que aumentam produção de leite) só vai ajudar se o problema não estiver relacionado com as questões descritas acima. E água só terá efeito se a mãe estiver realmente ingerindo líquidos em quantidade insuficiente.
Reforço aqui: na maioria das vezes, a baixa produção de leite está relacionada com os itens da última lista descrita acima! De qualquer forma temos que avaliar todas possibilidades.
O profissional indicado que pode avaliar TODOS os pedacinhos desse quebra cabeça que é a produção de leite materno é o consultor em amamentação com título específico de especialização para tal. A maioria dos profissionais de saúde só podem avaliar as peças referentes à sua própria formação. Uma avaliação completa gera oportunidade de indicação para os profissionais adequados quando há necessidade e uma atuação em todas as peças da situação presente.
E lembrem-se: o que funciona para uma mãe pode prejudicar ainda mais a produção de outra, pois os motivos da insuficiência de leite podem ser diferentes!
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Referência:
- Powers, N.G. - Low Intake in Breastfed Infants: Maternal and Infant Considerations - in Breastfeeding and Human Lactation 5th ed. (2016)
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