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Foto do escritorMarina Ferrari Nutri IBCLC

"Por que eu tenho pouco leite?"

Atualizado: 4 de jan. de 2022

Uma das mais comuns sensações das mães em aleitamento materno exclusivo é uma baixa produção, ou a sensação de “leite fraco”.


Primeiro ponto que temos que esclarecer é que não existe leite fraco. Todo leite materno, a não ser que a mãe esteja em desnutrição grave ou em dieta extremamente restrita, tem uma composição e quantidade energética muito parecida ao longo da lactação.


Segundo ponto que temos que esclarecer é a questão do “peito murcho”. Quando as coisas vão bem durante o primeiro mês de amamentação, e o bebê transfere leite suficiente para saciar seu apetite e ganhar peso adequadamente, existe um reajuste de produção de leite conforme a demanda do bebê. Isso quer dizer que as mamas não necessariamente ficarão com aquela sensação de cheias com a frequência que isso ocorria lá no início. O leite é produzido enquanto o bebê mama quando há a demanda.


E isso é um bom sinal! Vamos lembrar que seu corpo é uma fábrica de fazer leite e não uma sala de estoque. Isso quer dizer que seu bebê está demandando conforme a velocidade de produção. Se seu bebê precisar mais, ele vai demandar mais, e você vai aumentar a produção. Se começar a ficar leite na sala de estoque, vai haver um aviso lá no centro de controle para reduzir a produção.


Mas então tá. Não existe leite fraco. E peito é fábrica e não estoque. Mas e quando a fábrica não tá dando conta da demanda do bebê?

Esse é o terceiro ponto onde eu queria chegar. Não existe leite fraco, mas existe produção insuficiente de leite. E ela pode acontecer por muitos, muitos, muitos, muitos motivos. E eu vou comentar sobre alguns deles aqui.


Antes de continuar, só lembrando que a identificação de baixa trasnferência de leite se faz a partir da quantidade de fraldinhas de xixi e do ganho de peso do bebê. Se a velocidade de ganho de peso não estiver acompanhando a curva de crescimento, é preciso avaliar o que está acontecendo. A mãe não está produzindo o suficiente? O bebê "chupeta" mas não extrai leite?


Existem os motivos associados a questões maternas, os motivos associados a questões do bebê, e os mais comuns: os motivos associados à questão de organização da rotina das mamadas ou de utilização de apetrechos que podem atrapalhar a produção de leite.


É importante atentarmos aqui que os fatores do bebê que influenciam a produção de leite são os relacionados com a diminuição de sua capacidade de extrair leite das mamas ou de estimulá-la. Se o bebê não extrai leite da mama, não realiza a demanda necessária para a fábrica manter a produção.


Já, os últimos motivos da lista são aqueles que de alguma forma ditam ou restringem o acesso do bebê à mama, reduzindo a frequência de estímulo mamário e reduzindo a produção de leite.


Motivos maternos para baixa produção de leite:

· Insuficiência de tecido glandular mamário

· Problemas hormonais, incluindo hipotireoidismo, diabetes e SOP

· Mastite

· Fatores emocionais

· Fumo

· Ingestão de bebida alcóolica (inclusive a tal da cerveja preta)

· Cirurgia mamária, estética ou não (eu sei que o cirurgião plástico disse que não teria risco, mas ele SEMPRE existe - direta ou indiretamente)


Fatores do bebê para a baixa produção de leite:

· Prematuridade (mesmo que tardia - entre 37 e 39 semanas)

· Abertura pequena da boca (pode estar associada ao uso de mamadeira ou não)

· Pega inadequada (por exemplo, quando o bebê pega apenas o mamilo e não a aréola)

· Pouca força na musculatura oral (dificuldade de manter a pega e movimentar a língua adequadamente)

· Alergia à proteína do leite de vaca

· Língua presa com limitação de movimento


Motivos de organização/rotina ou de uso de apetrechos:

· Pouca frequência de contato pele-a-pele entre mãe e bebê

· Pouca frequência de mamadas nas primeiras seis semanas de vida

· Posicionamento inadequado para amamentar

· Troca de peito durante mamada conforme relógio

· Não trocar de peito o suficiente durante a mamada

· Limitar tempo de mamada ou mamadas noturnas

· Mãe volta a trabalhar sem manter estímulo com bomba tira-leite elétrica

· Uso de chupeta e uso de mamadeira sem compensação da consequente redução de estímulo mamário e remoção de leite com uso de bomba elétrica

· Introdução de alimentação complementar antes dos 6 meses

· Qualquer rotina ou apetrecho que diminua o tempo ou a frequência do acesso do bebê às mamas (ex: charutinho, chupeta, oferta de leite de outra forma, treinamento do sono, etc)


Posso ter esquecido alguns? Possivelmente!

Os fatores acima obrigatoriamente afetam a produção de leite? Não necessariamente!

Pode haver mais de um fator prejudicando a produção de leite? Sim!


Se você vivencia agum(s) desse(s) fatores, procure ajuda profissional e especializada, pois eles não são determinantes na sua possibilidade de amamentar.


Importante! Incluir ou aumentar a ingestão de chás ou alimentos comumente conhecidos como “galactogogos” (= que aumentam produção de leite) só vai ajudar se o problema não estiver relacionado com as questões descritas acima. E água só terá efeito se a mãe estiver realmente ingerindo líquidos em quantidade insuficiente.


Reforço aqui: na maioria das vezes, a baixa produção de leite está relacionada com os itens da última lista descrita acima! De qualquer forma temos que avaliar todas possibilidades.


O profissional indicado que pode avaliar TODOS os pedacinhos desse quebra cabeça que é a produção de leite materno é o consultor em amamentação com título específico de especialização para tal. A maioria dos profissionais de saúde só podem avaliar as peças referentes à sua própria formação. Uma avaliação completa gera oportunidade de indicação para os profissionais adequados quando há necessidade e uma atuação em todas as peças da situação presente.


E lembrem-se: o que funciona para uma mãe pode prejudicar ainda mais a produção de outra, pois os motivos da insuficiência de leite podem ser diferentes!


Esse post ajudou? Pode comentar! :)

 

Referência:

- Powers, N.G. - Low Intake in Breastfed Infants: Maternal and Infant Considerations - in Breastfeeding and Human Lactation 5th ed. (2016)


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